ÓPERA DA MADRUGADA

O enredo de Como esquecer é simples e sem grandes reviravoltas: uma mulher é abandonada pela companheira. Desolada, ela conta apenas com o auxílio de um amigo, que também tem de lidar com a ausência do namorado, morto há algum tempo. Além da solidão, da nova casa e das perdas, ambos têm um interesse em comum –  O Morro dos Ventos Uivantes , de Emily Brontë. A expressão tensa de Júlia (Ana Paula Arósio) está presente em todo o filme.  Ao fundo, escritos na lousa, vê-se apontamentos sobre O Morro dos Ventos Uivante s. Foto: reprodução. Esse clássico monumental aparece na narrativa, inicialmente, a partir das falas de Júlia (Ana Paula Arósio), que é professora de literatura inglesa numa universidade. Em diversos momentos do filme, ela surge com exemplares do livro nas mãos – seja nos momentos de dor ou nos belos flashbacks (momentos felizes, em Londres, com Antônia, sua antiga companheira). A intelectual ainda irrompe, em várias sequências, escrevendo sobre a obra. Júlia,

Neve, árvores negras, galhos retorcidos. A cor mais vibrante que pulula desse pálido cenário é o vermelho. Vermelho este que tinge o guarda-chuva de uma misteriosa figura. Caminha lentamente. Veste-se de preto. Segue pela única rota que conseguiu resistir ao branco trazido pelo frio. A Morte é tão relevante para a história de A menina que roubava livros que ocupou até mesmo as capas das primeiras edições da obra. E não é só na disposição gráfica dos elementos que ela equipara-se à protagonista. É a própria Morte quem conduz – e narra, de modo original – a história de Liesel Meminger. Nas primeiras edições do livro, a Morte estampava a capa. Ao carregar um guarda-chuva (algo inédito nas suas corriqueiras representações), a ceifadora de almas, na obra de Zusack, ganha originalidade e simpatia. Essa originalidade não está no fato de a trama se passar na Alemanha da Segunda Guerra Mundial. Ao longo do tempo, diversos escritores ambientaram suas narrativas nesse períod