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"Espelho da Vida" inova usando elementos clássicos do folhetim

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       A companho o trabalho de Elizabeth Jhin desde 2002, quando ela foi colaboradora em  O Beijo do Vampiro , de Antônio Calmon. Seguindo um caminho muito natural no meio televisivo, a mineira de Belo Horizonte deixou, em 2004, de cooperar com grandes nomes do gênero para se tornar autora principal. De lá para cá, tivemos as não tão lembradas  Começar de Novo  (escrita em parceria com Calmon) e  Eterna Magia ; mas também acompanhamos o sucesso de  Escrito nas Estrelas ,  Amor Eterno Amor  e  Além do Tempo . Na noite de ontem (25), Jhin levou ao ar o primeiro capítulo de sua mais nova produção –  Espelho da Vida  –, que, acredito eu, está fadada a figurar no rol de obras bem-sucedidas. Alinne Moraes, João Vicente de Castro e Vitória Strada, os protagonistas de  Espelho da Vida . Foto: Observatório da TV. Sagaz, a autora já abriu a novela com uma cena de ação, extraída do filme de Alain (João Vicente de Castro). Após essa sequência, ele ganhou o prêmio “Melhores do A

"Malhação" e suas conexões com a literatura

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A chuva torrencial desaba sobre uma rua escura do Rio de Janeiro. Alexia está à procura da casa com o número 1046. Num determinado momento, Douglas, seu ex-namorado – já falecido – aparece. Assustada, ela se esconde num beco e tenta realizar uma ligação, mas o celular está fora de área. Há exatamente sete anos, foi essa cena que o público de Malhação acompanhou no início da temporada de 2011. A sequência fundiu muito bem os dois temas propostos para os episódios - a conexão (representada pelo celular) e o sobrenatural (a presença de um rapaz morto). O roteiro da série, escrito pela publicitária Ingrid Zavarezzi, ao longo da primeira fase (é sobre esse período que vou discutir), fez numerosas referências à chamada literatura de consumo e às redes sociais – os personagens até mantinham contas reais no Twitter. O sonho em que Alexia (Bia Arantes) procura, sob a chuva, por uma casa com o número 1046 é recorrente e assustador. Um blog, por exemplo, serviu como ferramenta par

"Equus", um filme sobre o poder arquetípico do cavalo

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Um famoso psiquiatra precisa resolver o seguinte caso: um jovem funcionário feriu os olhos de seis cavalos no haras onde trabalhava. O psiquiatra é o Dr. Martin Dysaer, o jovem é Alan Strang, e o filme é Equus , dirigido por Sidney Lumet e com enredo baseado numa peça teatral homônima escrita por Peter Shaffer.   A cada conversa entre médico e paciente (entrecortada por vários flashbacks), vamos mergulhando na psique dessas figuras – e, sobretudo, no poder arquetípico do cavalo. Obsessão, insanidade e mistérios da psique humana marcam o filme Equus . Alan cresce num ambiente imerso nas narrativas da mãe. As histórias bíblicas contadas por sua genitora sempre exaltaram a imponência dos equídeos – fato que leva o rapaz a desenvolver uma relação voluptuosa, simbiótica e de dependência com esses animais. Apesar de a personagem colocar algumas visões pessoais e exageros nos textos das Escrituras, são inegáveis a presença e a simbologia dicotômica que o cavalo assume do Gênesis a

Solfieri, o melhor personagem do Ultrarromantismo brasileiro

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Puxe uma cadeira, retire uma taça do armário e abra uma garrafa de vinho (a melhor que tiver). É necessário. Essas ações lhe trarão aquilo que a leitura deste texto pede: delírio, insanidade, prazer. Não poderia ser diferente – ele trata de uma conversa realizada numa taverna, lugar, por natureza, de loucura e desvarios. E é exatamente nesse cenário, sentado à mesa, ébrio e febril, que encontramos Solfieri – personagem-narrador que abre os relatos macabros de Noite na Taverna , obra magistral do nosso brasileiro Álvares de Azevedo. Permeado de elementos mórbidos do início ao fim, Solfieri é um conto sobre, aparentemente, necrofilia. Digo “aparentemente” porque, no decorrer da história, descobre-se que a jovem ainda não estava morta no momento do ato sexual. Gosto muito dessa narrativa por três razões: primeira, foi escrita pelo representante máximo do Ultrarromantismo no Brasil; segunda, funde amor e morte num mesmo espaço; terceiro, o personagem funciona como um alter ego do pr

Insônia, pólvora, chumbo e sexo, os ingredientes da literatura subversiva de Tico Santa Cruz

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Há um corriqueiro e desgastado adágio que afirma a necessidade de não se julgar um livro pela capa. Confesso que, normalmente, contrario essa máxima e me deixo levar pela aparência de uma obra. A beleza de uma ilustração, a disposição de fontes tipográficas e uma boa sinopse são o ponto de partida para que eu seja arrebatado. Essas características, inclusive, foram fundamentais para que eu ficasse fascinado por Clube da Insônia – livro do músico Tico Santa Cruz. Publicado pela Belas Letras, o livro propõe um mergulho na escuridão. Oriundo do blog homônimo, mantido desde 2004, a obra reúne ensaios – e vários outros gêneros – sobre política, questões existenciais e confissões, muitas confissões e angústias do autor. Ler esse livro é, como prenuncia a sinopse, mergulhar nas sombras e na escuridão da madrugada – com todos os seus vultos, fantasmas e insanidades. Senti-me profundamente acolhido pela proposta: vivo refletindo e escrevendo noite adentro. A capa dessa publicaç

“Orgulho e Paixão”: uma simpática revisitação ao universo literário de Jane Austen

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Escritora das mais preeminentes em língua inglesa, Jane Austen nos deixou um vasto legado literário. Orgulho e Preconceito , Emma e Razão e Sensibilidade são apenas alguns dos títulos mais conhecidos concebidos por essa autora. Exatamente das páginas desses escritos, o competente roteirista Marcos Bernstein extraiu a matéria-prima para o seu mais recente projeto – a telenovela Orgulho e Paixão , produzida e exibida pela Rede Globo de Televisão. Felisberto Benedito, sua esposa e suas filhas.  Como nas obras de Austen, a presença feminina é predominante. Foto: reprodução. Bernstein foi um dos responsáveis pelo sucesso de Central do Brasil , filme amplamente premiado e comentado em vários lugares do mundo. Agora, em sua nova empreitada no delicado horário das 18 h (ele já havia escrito Além do Horizonte ), o autor se apropria do universo temático de Austen e o realoca no Brasil do início do século XX. Nesse período, em meio ao fictício Vale do Café, encontramos a família Bene

Há 12 anos terminava "Alma Gêmea", um sublime mosaico de símbolos espiritualistas

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  No fim da história, Rafael e Serena seguem  em direção à eternidade. Foto: reprodução. Das rosas vermelhas, que já ocupam o primeiríssimo plano da cena de estreia, à epígrafe   cunhada pelo ocultista Harvey Spencer Lewis,  que laureia a última sequência da trama ,  Alma Gêmea apresentou um delicado mosaico de símbolos mágicos, esotéricos e espiritualistas. Há exatos 12 anos, o Brasil parava para acompanhar o desfecho pouco usual – os protagonistas morrem – dado a uma novela de Walcyr Carrasco, que, por ser místico, adornou sua história com belas temáticas sobrenaturais. Ambientada na fictícia Roseiral dos anos 40 (após uma primeira fase, na década de 20), Alma Gêmea já mostrava sua carga simbólica no nome da cidade – uma alusão ao ícone máximo da narrativa: a rosa. Vermelhas, brancas e azuis, essas flores eram onipresentes ao longo da história (e fora dela também – basta lembrarmos da abertura da novela: rosas que se fundem ao som de uma conhecida canção de Fábio Júnior)