Morte e arte: pilares da obra de Lygia Bojunga Nunes
Lygia Bojunga foi a primeira autora da América Latina a
ganhar o renomado Hans Christian Andersen, prêmio – internacional – concedido
aos melhores autores de literatura infantojuvenil. Com mais de 20 livros
publicados, Bojunga passeou por diversos temas – inclusive os mais nevrálgicos
– que povoam o imaginário juvenil. Apesar dos vários personagens, situações
diversificadas e cenários distintos, a obra da escritora pelotense recorre –
frequentemente – a dois temas fascinantes: a morte e a arte.
A autora Lygia Bojunga Nunes Fonte: Casa Lygia Bojunga |
Em
Angélica (1975), obra posterior a Os Colegas, a protagonista – que possui
o mesmo nome do livro – é apaixonada por teatro. Na obra Corda Bamba (1979), a personagem Maria é uma artista circense. Já
Raquel, a personagem principal de A Bolsa
Amarela (1976), é escritora. Em O Meu
Amigo Pintor (1987) – como o próprio título sugere – também apresenta um
personagem artista.
No
entanto, em A Troca e a Tarefa, conto
do livro Tchau (1984), é que notamos,
nitidamente, a união da arte com outro elemento marcante da obra de Lygia
Bojunga – a morte.
De fato: eu gostava muito de brincar de morte. Ou melhor, com a Morte.
- Lygia Bojunga Nunes
A
protagonista desse conto é uma garota que é apaixonada pelo namorado da própria
irmã – e fica frustrada por isso. Mas além desse episódio, a personagem carrega
diversas perturbações. E, num determinado momento da história, descobre que
suas angústias devem se materializar em textos. Cada emoção, cada medo, cada
tristeza deve se metamorfosear em palavra. A protagonista de A Troca e a Tarefa, para exorcizar seus
sentimentos, torna-se, então, escritora.
É
aí que a Morte – com inicial maiúscula mesmo, já que, para Lygia, ela é sempre
uma personagem – entra na história. A jovem descobre – por meio de um sonho –
que morreria assim que colocasse o ponto final no seu vigésimo sétimo livro.
Nada de admirar, então, que, desde pequena, eu me
empenhasse tanto em “ficar amiga da Morte”.
- Lygia Bojunga Nunes
Mas
não é só A Troca e Tarefa que explora
esse tema mórbido. Do mesmo modo que a arte foi utilizada nas diversas obras de
Bojunga, a Morte também fulgura no enredo de O
Sofá Estampado (1980). E atravessa as páginas de O Abraço (1995) e Nós Três (1987)
– obras que a própria autora nomeou de “meu par sombrio”.
Para Lygia - por incrível que pareça -, esse tema é capaz de despertar otimismo em seus leitores: “(...) no futuro, caso a Morte se faça
outra vez presente na minha escrita, que ela apareça como nos meus outros
livros, que não ‘o par’: deixando brechas para a esperança e a valorização da vida”.
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