As representações líricas da morte em "O Rouxinol e a Rosa", "O Gigante Egoísta" e "O Príncipe Feliz", de Oscar Wilde
Detalhe de A Morte de Jacinto, de Jean Broc. Flores, música, sangue, morte e imortalidade - temas do conto O Rouxinol e a Rosa, de Wilde - também estão presentes na mitologia grega. |
Conhecido
mundialmente pelo seu belo e único romance, O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde também escreveu contos infantis. Textos
que revelam uma serenidade e um lirismo diferentes da voluptuosa trama de Basil
e Dorian. Em O Rouxinol e a Rosa, O Gigante Egoísta e O Príncipe Feliz, Wilde recorre a simples – e personificados – elementos
da natureza. Nos três textos, a morte é descrita de forma poética, sutil e
fascinante.
Cristo crucificado entre dois ladrões, de Rubens. Renúncia, sacrifício e amor estão presentes no cristianismo e nos contos de Wilde. |
O
lirismo de O Rouxinol e a Rosa é
encantador. Ao ouvir as lamúrias de um jovem apaixonado – que precisa levar uma
rosa vermelha para sua amada –, o Rouxinol sai à procura de uma flor assim. Mas
só encontra uma rosa branca. E não há alternativa: o pássaro deverá tingi-la, sob
a luz do luar, com o seu próprio sangue. O itinerário do Rouxinol é repleto de
metáforas espirituais.
A
rosa é um símbolo do cálice que recolheu o sagrado sangue de Cristo. O sangue,
dentre seus diversos significados, é uma representação da alma. Já o rouxinol
é, na simbologia cristã, a saudade do Céu, além de evocar uma morte tranquila.
A noite também simboliza o mistério da morte. E a lua – com o seu complexo
simbolismo – confere ao conto um tom místico e religioso.
Na
narrativa de O Príncipe Feliz, curta
e repleta de significados, observa-se a história de uma preciosa estátua que se
autodestrói, com o auxílio de uma andorinha, para alimentar o povo pobre da
cidade.
“Por trás da batuta, está a complexidade da vida, que pode ser vista como uma longa e difícil marcha de aproximação do Mistério, de Deus”
- Oscar Wilde
A Virgem de Fuso, de Leonardo Da Vinci. As palavras de Wilde evocam diversos elementos da iconografia cristã. |
A
estátua é um símbolo do martírio, enquanto a andorinha é uma alegoria da
ressurreição e da alma humana. E, de forma ainda mais clara, ao final da
história, nota-se uma presença espiritual – um anjo que vem buscar a ave morta
e o coração do Príncipe Feliz.
Em
o Gigante Egoísta, conto que
apresenta diversas forças da natureza – como vento, geada e primavera –
personificadas, tem-se uma narrativa breve e simples, mas que também evoca uma
poética e profunda simbologia.
O
Vento, que dialoga com os outros elementos da natureza, por exemplo, é um
símbolo da exortação divina, do pedido de mudança nas atitudes do Gigante – os
ventos, como os anjos, são mensageiros de Deus. O jardim murado do personagem também
é um símbolo de sua dificuldade de desenvolvimento espiritual. E o menininho
que o gigante adorava é, sem dúvida, uma representação de Cristo. É nítida a
semelhança entre suas características – marcas de pregos nas mãos e nos pés,
ferimentos causados pelo Amor, segundo ele mesmo – e os atributos do Filho de
Deus, Jesus Cristo. Além disso, Wilde, por meio do garotinho, promete, ao final
do conto, levar o Gigante – e os leitores – para repousarem em seu jardim. Um jardim eterno. O jardim mais belo que existe: o Paraíso.
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