Pairot investiga: a influência da obra "O caso dos dez negrinhos", de Agatha Christie, na teledramaturgia brasileira
CENA 01/EXTERNA/ILHA/DIA
Plano geral:
o barco chega à praia. Os tripulantes estão felizes. O cenário é paradisíaco.
Descem e caminham descalços pela areia. Longo
fade out. Gritos de horror.
A cena descrita acima, apesar de ser fictícia, é
bastante familiar: são muitas as produções audiovisuais que ambientam histórias
de crime e mistério em ilhas paradisíacas. A maior parte dessas produções – novelas, minisséries e seriados – bebe sempre numa mesma fonte: o romance O caso dos dez negrinhos (1939), de
Agatha Christie.
Mesmo sendo alvo de críticas, é inegável a influência
que a renomada escritora inglesa exerce sobre escritores – e roteiristas – de
todo o mundo. A série norte-americana Lost
é um exemplo de produto audiovisual que tece relações intertextuais com o
enredo de O caso dos dez negrinhos –
o livro mais vendido de Agatha Christie.
Lugares desertos, mistérios e
personagens ambíguos também
estão presentes em Supermax.
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O
rebu – tanto a versão original de 1974 quanto o remake de
2014 – é outro exemplo de telenovela que evoca O caso dos dez negrinhos e sua atmosfera misteriosa. Na trama,
durante uma festa luxuosa, ocorre, também, o crime do quarto fechado.
Exibida pela extinta TV Excelsior, a telenovela Os fantoches, de Ivani Ribeiro, ao utilizar elementos da obra de Agatha Christie, destacou-se pela estrutura narrativa. |
“Dez negrinhos vão jantar enquanto não chove;
Um deles se engasgou, e então ficaram nove.
Nove negrinhos sem dormir: não é biscoito!
Um deles cai no sono, então ficaram oito;
Oito negrinhos vão a Devon em charrete;
Um deles quis ficar, então ficaram sete.
Sete negrinhos vão rachar lenha, mas eis
Que um deles se corta, então ficaram seis;
Seis negrinhos de uma colmeia fazem brinco;
A abelha picou um, e então ficaram cinco,
Cinco negrinhos vão ao fórum, a tomar os ares;
Um deles foi julgado, então ficaram dois pares.
Quatro negrinhos vão ao mar; a um tragou de vez
O arenque defumado, e então ficaram três.
Três negrinhos passeando no zoológico. E depois?
O urso abraçou um, e então ficaram dois.
Dois negrinhos brincando no sol, sem medo algum;
Um deles se queimou, e então ficou só um.
Um negrinho está sozinho, é só um;
Ele se enforcou, e não sobrará nenhum.”
Apesar da profecia poética – que aparece desde as
primeiras páginas –, a história não é previsível. Muito pelo contrário: é repleta de surpresas. Esse livro explora,
dentre outras coisas, o viés arquetípico da ilha - uma metáfora da própria
existência humana. Mais que um romance
policial, O caso dos dez negrinhos
apresenta personagens ambíguos: todos são vilões e mocinhos ao mesmo tempo – como qualquer
um de nós.
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