"Led Zeppelin IV": uma escada mágica para o Paraíso
Numa sala obscura, com poucos vestígios de luz, um
ancião de cabelos compridos e barba longa está debruçado sobre antigas
inscrições impressas num enorme papel amarelado. Seus olhos só conseguem
distinguir os sinais ali grafados – signos do zodíaco, planetas e hieróglifos
egípcios – pela iluminação bruxuleante de velas queimadas até a metade. Em cima
da mesa, caveiras, livros corroídos pelo bolor dos séculos e frascos de curiosos formatos. Um
cheiro de mercúrio impregna todo o ar. Mas o alquimista nem sente – está
concentrado em transcrever os sinais desenhados no antigo pergaminho para um volumoso caderno de anotações.
Como tantos outros habitantes daquele tempo, Gerolamo Cardamo sabe que os símbolos carregam um
poder descomunal e que podem ser usados no projeto que lhe ocupou toda a vida –
descobrir o segredo da imortalidade.
Parte interna do disco Led Zeppelin IV: um manancial de símbolos mágicos. |
Séculos e séculos separam Jimmy Page e o
autor do livro Ars Magica
Arteficii,escrito
em 1557. Contudo, o símbolo do planeta Saturno, conhecido como ZoSo, une esses
dois personagens em torno de um interesse em comum – o ocultismo.
Além da evocação aos estudos de Cardano, Jimmy Page – o conhecido
guitarista do Led Zeppelin – imprimiu referências ao mago Aleister Crowley em várias
capas e letras de discos do grupo de rock inglês. Todavia, o álbum mais
carregado de símbolos e mistérios é o quarto disco da banda.
O fato de a obra não ter nome já é o primeiro elemento que perturba os
aficcionados pelo esoterismo. Numa escolha inteligente, Page e seus
companheiros utilizaram somente sinais místicos para criar a identidade visual
do álbum. Runas, Disco sem nome, Disco dos símbolos e ZoSo são alguns dos nomes
que os fãs usam para designar o disco.
No Tarô de Rider Waite, O Eremita simboliza o exílio e o encontro com a nossa própria essência. O autor desse baralho foi membro da Aurora Dourada, ordem que Crowley também participava . |
Outro símbolo – o de três círculos entrelaçados entre si – também carrega
uma alusão trinitária. E a pena, que representa o vocalista, Robert Plant, é
uma alusão à Maat, antiga divindade egípcia, patrona da justiça, da liberdade e
da lealdade. Nota-se que o círculo – insígnia do infinito e da vida eterna – é onipresente
em todos os símbolos que representam os membros do Led Zeppelin.
Apesar dessa riqueza semiótica evocada por esses sinais, o grande
protagonista da arte gráfica da parte interna do disco é o Eremita, um dos
arcanos maiores do Tarô. Até mesmo a imagem frontal – o camponês carregando um
feixe – alude à solidão expressa na carta. A curiosa figura, coberta
por um manto e tendo como companhia apenas um cajado e uma lamparina, representa
a eterna busca do homem pelo autoconhecimento. Esse poder encantador dos símbolos
é reforçado, também, pelas letras das canções do disco.
Stairway To Heaven, por exemplo, é um capítulo à
parte. Somente uma análise de sua letra renderia páginas e páginas de um texto
inspirador, pois são vários os elementos místicos e esotéricos que permeiam
essa fascinante composição. Por ora, basta dizer que Led Zeppelin IV,
com todo o seu repositório de emblemas, letras poéticas e mistérios, é uma escada mágica que
nos conduz ao Paraíso.
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