A simbologia que se esconde no “Outro Lado do Paraíso”
Críticos
de televisão afirmam que a qualidade de uma telenovela só pode ser medida
depois da segunda semana de exibição da trama. O motivo: é a partir desse
momento que a produção entra na rotina e, em meio à agilidade do dia a dia,
mostra – ou não – a que veio. Embora pareça precipitado da minha parte, acredito
que O Outro Lado do Paraíso seja uma
dessas histórias fortes, emocionantes e sedutoras.
Suceder
o texto magistral de Glória Perez pode não ser fácil. Mas Walcyr Carrasco,
outro autor de grande competência (basta observar Alma Gêmea, Amor à Vida e
Êta Mundo Bom), decidiu utilizar o
mesmo recurso de sua colega – adornar a trama com diversos elementos simbólicos e literários.
Com uma
esmerada estética cinematográfica – já explorada em Verdades Secretas –, o
capítulo de estreia foi marcado pela relação telúrica dos personagens. Seja quem
trabalha na colheita do capim dourado – a cena de Clara (Bianca Bin) dançando no campo foi
belíssima, um legítimo Beltane, festa primaveril entre os celtas – ou aqueles
que ambicionam a fortuna trazida pelas esmeraldas, ocultas nos grotões da
terra. Para reforçar a ligação com a natureza, uma artesã declara: “O capim
dourado é tudo pra gente!”.
Os mocinhos,
Clara e Renato (Rafael Cardoso), inclusive, se entreolham por meio de uma mandala feita desse
vegetal – representação do cosmos e do ser humano, que, segundo Jung, simboliza
a luta pela totalidade. De fato, já nesse preâmbulo de narrativa, identificamos
o Bem e o Mal devidamente separados pelas famílias: uma nos alude às famílias
pobres dos romances regionalistas e a outra é composto por vigaristas – ecos do
clã Thénardier, de Os Miseráveis,
livro de Victor Hugo profundamente admirado por Walcyr Carrasco.
Personagens na plantação de capim dourado. A relação com a terra é evidente. Foto: reprodução. |
O cunho misterioso e escatológico também está presente na trama de Mercedes
(interpretada pela veterana e sempre irretocável Fernanda Montenegro). Mística, médium e profetisa,
a personagem – já nas chamadas – desponta como uma narradora. Sua fé –
imbricada – mistura catolicismo (o rosário e a imagem de Nossa Senhora),
protestantismo (a crença iminente no fim do mundo), espiritismo (as vozes do
Além) e até mesmo credos totêmicos e ancestrais (sim, as esculturas
antropomórficas em seu quintal). Pelos olhos de Mercedes, o público descobrirá
os segredos, a magia e as belezas que se ocultam no Outro Lado do Paraíso...
Comentários
Postar um comentário