“Orgulho e Paixão”: uma simpática revisitação ao universo literário de Jane Austen


Escritora das mais preeminentes em língua inglesa, Jane Austen nos deixou um vasto legado literário. Orgulho e Preconceito, Emma e Razão e Sensibilidade são apenas alguns dos títulos mais conhecidos concebidos por essa autora. Exatamente das páginas desses escritos, o competente roteirista Marcos Bernstein extraiu a matéria-prima para o seu mais recente projeto – a telenovela Orgulho e Paixão, produzida e exibida pela Rede Globo de Televisão.

Felisberto Benedito, sua esposa e suas filhas.
 Como nas obras de Austen, a presença feminina é predominante.
Foto: reprodução.
Bernstein foi um dos responsáveis pelo sucesso de Central do Brasil, filme amplamente premiado e comentado em vários lugares do mundo. Agora, em sua nova empreitada no delicado horário das 18 h (ele já havia escrito Além do Horizonte), o autor se apropria do universo temático de Austen e o realoca no Brasil do início do século XX. Nesse período, em meio ao fictício Vale do Café, encontramos a família Benedito e o quinteto de protagonistas – cinco mulheres fortes e divertidas.

Aliás, fiel à sua fonte de inspiração, Orgulho e Paixão tem seu mote ancorado na representação do feminino e nos dilemas familiares – características notórias da obra de Jane Austen.

Elisabeta (a bela Nathalia Dill brilha em mais um papel), por exemplo, é uma das filhas de Felisberto Benedito (Tato Gabus Mendes). Diferente das quatro irmãs, ela não pretende se casar e ser submissa ao marido. A cena inicial da trama, inclusive, apresenta a personagem segurando o globo terrestre – excelente metáfora para o desejo de conquistar o mundo, que norteará sua jornada. A Terra, nessa representação, assume a simbologia da totalidade e da conexão com o Universo.

O Sol também se faz presente na história – por meio da fotografia leve, reluzente e suave, que traz um frescor à trama, algo raro de ser visto em uma novela de época (Tempo de Amar, sua antecessora, por exemplo, tinha uma estética muito mais sóbria).

Jane Austen, dona de um vasto legado literário.
Retrato pintado em 1875 por um desconhecido.
Nessa paisagem solar, além das filhas de Felisberto, encontramos Emma (Ágata Moreira). Embora seja, a princípio, uma alusão a uma personagem de Austen, a Emma da novela também guarda semelhanças com sua outra homônima literária – aquela criada por Gustav Flaubert e que dá título à sua obra-prima, Madame Bovary. Como ela, a jovem acalenta sonhos e fantasias com o casamento, algo típico das heroínas românticas. Esse desejo de se casar é um estímulo para a organização de bailes e festas com as amigas da família Benedito – fato que nos remete ao conto de fadas alemão As doze princesas bailarinas, recolhido pelos irmãos Grimm.

E para completar sua pujança de referências literárias, Orgulho e Paixão nos presenteia com uma também romântica e divertida abertura – muito bem adornada pelos símbolos clássicos do folhetim: o trem exalando sua fumaça, os pretendentes, o lenço esvoaçante, as donzelas com suas sombrinhas e chapéus, as flores e, por fim, é claro, os mocinhos (orgulhosos e sempre apaixonados).

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